quinta-feira, 1 de outubro de 2009

O Vazio Depois do Sonho Que a Ele Se Seguirá


Foram doces os sonhos que tivemos e queridos aqueles que os proporcionaram, amamos os dias que foram o nosso presente por guardarmos deles nada mais d
o que as alegrias... lembramos as cores garridas da borboleta, mas esquecemos que ela foi feia lagarta, lembramos a flor pela beleza da sua cor e pela frescura do seu aroma, mas esquecemos a sua morte... Somos hoje a soma de tudo o que vivemos, e embora sejam as alegrias o que mais nos fascina, são as tristezas que mais nos fazem pensar, agir, são elas que contribuem para a nossa maior nobreza de espírito e clareza de pensamento...
Os sonhos que antes parecemos gerar do nada, evoluem em direcção ao infinito, e com tempo, com gosto, tornam-se missões divinas, cheias de felicidade eterna... Serão sempre os nossos pequenos projectos pessoais, até se tornarem no monstro que não conseguimos controlar e depois, então sim, há que culpar alguém... e foi assim que surgiram os psiquiatras e os psicólogos... Custa ter sonhos... custa também ter filhos, cuidar deles, fazer deles homens e mulheres válidos, talvez pequenos “nóses“; custa ter animais de estimação, empregos, hobbies,... mas custa mais ter sonhos porque lutamos contra tudo, mesmo nós próprios, só para ir ao encontro de uma estrela brilhante no firmamento, que às vezes, sob o céu nublado perguntamos se de facto ainda lá está, a brilhar... Custam os sonhos, pois tudo o resto encolhe-se a um canto da rotina diária, inertes por largo tempo, domados, dóceis... os sonhos fogem mais e a cada momento e pedem esforço, dedicação e a capacidade de lutar contra o nosso próprio ócio e fraqueza de espírito...
E é talvez po
r isso que quando vemos um sonho realizado, por mais pequeno que seja, embala-nos uma tal sensação de realização e de felicidade que só algo no mundo a pode ultrapassar: o espreitar ciumento de um outro sonho, por realizar, temeroso do nosso esquecimento, ardendo pela nossa atenção...
Somos esta rocambolesca mistura de tudo e nada, de estrelas e de pó, qual deles de facto a base do nosso existir... Nada mais somos do que um pequeno nada, ocupados a discutir assuntos que tanto nos ultrapassam, temas que dramatizam a nossa pequenez de tal forma que mais valia estarmos calados... ou será que não? Talvez nos esteja reservado o papel de pequeno David, na sua tarefa gloriosamente inglória de derrubar os que não dominamos, não compreendemos...


Cartilha de Sonhos

Por caminhos e dias perdidos no tempo e no espaço,

Vagueiam sonhos, vagueiam pensamentos e actos,
Posses, que nunca passaram de desejos a factos,
De almas perseguidas pelo doce frio do aço...


E o que fazer a todas eles, questionam-se alguns,

Deveremos procurar realizar apenas os sonhos comuns?

Ou será que tudo vale a pena quando a alma não é pequena?
Como escreveu o poeta, com sua alma, sua pena...

Porquê sonhar sem ter o poder divino de realizar?

Porquê querer sem ter o poder humano de fazer?

Porquê questionar sem nunca poder responder?...


E porquê gostar sem ter o triste poder de amar?

Por sonhos, pensamentos, e desejos assinalados,

Será que ao querer mais, estamos todos errados?

Porto, 24/11/99


6 comentários:

maria teresa disse...

Gostei do seu "desabafo" mas penso de modo diferente, não custa ter sonhos, é bom ter sonhos, o que é difícil (por vezes) é realizá-los.
Sonhe, sonhe muito, lembre-se da poema "Pedra Filosofal" de António Gedeão..."(...)o sonho comanda a vida(...)"

Graça Pereira disse...

Toda a obra válida é antecedida por um sonho mas, não podemos ficar só nos sonhos, há que passar á sua realização sob pena de eles murcharem como baloões na noite de S. joão, caídos do céu...
Mas se balão de sonho não sobe, tenhemos sempre á mão uma meia dúzia de reserva para o que der e vier...
Lá diz o ditado: Homem prevenido, vale por dois.
Quanto ao poema, é dos mais lindos que tenho lido neste mundo virtual. Parabens e deves continuar a expô-los. Um beijo Graça

Eva Gonçalves disse...

Fica a dúvida... se devemos sonhar mais alto, ou sonhar rente ao chão, onde possa caír na rede...
Já conheci quem não tinha sonhos (acho que vou escrever sobre isso, nada de roubar a ideia agora!:)

Não é o sonho que comanda a vida... a vida comanda os sonhos. O que comanda a vida, somos nós. Cada um de nós... cheio de sonhos, com uma mão cheia deles, ou só com um sonho...ou mesmo, sem sonho algum...

Os budistas, dizem que a felicidade está em não desejar nada... e acho que têm razão...

beijo

Buxexinhas disse...

Eu acho que devemos sempre sonhar... os sonhos impulsionam-nos para a vida... sem eles não temos objectivos... a vida fica bem mais escura e insignificante!!! :) beijinho mac

Demóstenes disse...

Indicaram-me o caminho até aqui e vim espreitar.
Curioso como urdi um texto semelhante e curioso também o facto de termos aproximadamente a mesma idade. Será sintomático ou representativo duma geração à deriva?

Gostei.

Filipa disse...

Provocação: que somos nós sem sonhos?