quarta-feira, 9 de setembro de 2009

Currente Calamo


Encontro-me com os teus perdidos olhos de avelã

na noite suicida do mais triste amanhã,
sonhando atarefado com um qualquer preceito nobre
de querer mais que o simples fado,
sentinela do respeito.
Doce noite,
doce dia,
doce manhã de inverno;
doce triste agonia do lamento, quiçá, eterno;
Doce mel, doce poesia,
doce amor,
doce paixão
e o tédio, a alegria,
vivem connosco a prisão.
Sobe, sobe já, junta-te a mim tu manhã,
animada pelo sonho do mais triste amanhã.
Canta, cantemos juntos,
sonhos e malmequeres,
perdidos nesta viagem,
sem margem para alguéms,
no sonho, uma miragem de um planeta qualquer,
perdido na outra margem do corpo de uma mulher.
Enquanto um Deus de encanto homem,
virgem de todo o amor,
junta a fantasia divina de um nobre ser
ao toque doce e roufenho de um sino,
um quebrado sino,
de uma véspera qualquer;
E logo logo chegará
aquela a quem todos procuram,
a híbrida pantomina do riso e da afasia,
a noite permanente no reino da fantasia,
num dia, hoje eterno, no ideal de um petiz,
um isco macabro e terno, em lágrimas lavado mas feliz...
É esta a trôpega aliança de um qualquer ser mais humano,
com a santa diligência de um divino sacramento,
unidos na vitória de um massacre lamacento
em que deus e homem se uniram num lamento,
na espera curta e bisonha daquele ultimo momento
em que chega a rua finda,
a estrada morta,
as três pancadas,
e o périplo já não importa,
não importa mesmo a sorte,
pois as cartas nada mostram,
apenas uma mostra a morte!

Nuno Machado


3 comentários:

Graça Pereira disse...

Maravilhoso! Conheço os teus poemas e penso que já há muito tempo deviam estar editados num livro. A humildade a mais é pecado, sabias? Um beijo e Parabéns Graça

Eva Gonçalves disse...

:)) not too soon I hope...
the poem also says quite a lot about you...(not good or bad) but I'll keep it to myself, if you don't mind...

Buxexinhas disse...

Muito bonito e sentido... Adoro poesia e devo dizer que escreves lindamente!!! Beijinhos ;)