quinta-feira, 27 de agosto de 2009

Pensamento Subliminal


Detesto a noite!

É tão aborrecido ter que dormir, acho que não passa de uma perda de tempo... Aqui, deitado, contemplando o negro tecto do meu mundo, meu quarto, fitando as estreitas ondas de luz que escapam aos estores, à cortina, aqui só se sofre! Invadem os exércitos dos meus maus pensamentos, dos meus medos, dos terrores... e o sono... não vem! Os pesadelos que, ao dormir, cobardemente me ameaçam, penetram agora na minha memória contínua de errante. O que de errado fiz no passado, assim se repete a meus olhos, espelhos de uma alma em reacção, que jaz, inerte, em cima de um colchão, a dormir? Não! Seria pedir demais...



A mentira social que sou: jovem? Sim, mas não muito! E quanto mais minutos, horas, dias, passam por mim, ali deitado, acordado, lívido, mais penso naquele glorioso último segundo, fronteira última de realidade infeliz, parte lustrosa de um mundo-fantoche, da paz, do meu céu, do sono... Mas ai de mim, que esse último obstáculo se afasta, não vem, provoca-me, a mim, que não matei, não roubei, não fiz nada de mal, apenas cruzei, isolado, este mundo animal, tímido... Tão, tão tímido até, que sem pensar, sem fé, afastei de mim os amigos, as amadas, as admiradoras… e agora, como quem ri, à socapa, com a infelicidade de outrem, goza-me aquele último segundo com desdém, e mais se afasta de mim...
Detesto ter que dormir, mas adoro sonhar... Detesto a ansiedade da espera pelo sono que tarda, a inactividade de uma noite perdida.... a dormir; mas no sonho, aí, vingo-me da sociedade que me maltrata, sem saber, e talvez por eu querer, vingo-me de mim, do meu eu real, que não passa de um Velho do Restelo espelhado na minha existência, que no sonho se acaba, e renasce, Feniana na sua glória imortal, poderoso, herdeiro do savoir faire da história... Histórias, de que afinal não passam os sonhos...
Para quê dormir, para perder valioso tempo na nossa ínfima existência, ou para, através dos sonhos, nos lembrar-mos do que podíamos ser e não somos...

É quase manhã, e eu sem dormir... As magras ondas de luz que lutavam por uma nesga nas estreitas frinchas dos estores, invadem agora, mais à vontade, o penetrável reduto que é o meu quarto, o meu mundo...
É tão aborrecido perder tempo a dormir, sobretudo quando o sono não vem, até porque, entenda-se, eu adoro dormir...



3 comentários:

Graça Pereira disse...

A noite tambem é boa conselheira...anquanto o sono não chega, sonho um pouco,faz bem á alma e coração. No dia seguinte, pões de pé o sonho que sonhaste e a noite deixará de ser inútil.
Gostei das tuas fotos Graça

Anónimo disse...

Fotos belíssimas, num texto filosófico...Gostei. Um abraço.Nocturnor

Eva Gonçalves disse...

Nunca percebi quem diz que gosta de dormir. Na realidade, eu durmo porque preciso de o fazer... mas não me dá prazer algum, preferia não ter de o fazer... agora, precisar de dormir e não conseguir é outra história... dá assim para uns devaneios, balanços de vida, ruminações mais ou menos filosóficas ou intelectuais, uns biscoititos com leite e deambulações pela net...